Famílias tradicionais denunciam grilagem e violência por disputa de terras em Trancoso

Por Tássio Loureiro / VIA41
07/05/2025 - 16:45

Conflito histórico envolve desmatamento, supostas fraudes documentais e invasões em área conhecida como Terras do Rio Verde, em Porto Seguro.

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Moradores tradicionais de Trancoso, no município de Porto Seguro (BA), denunciam um histórico de grilagem de terras, fraudes documentais e ameaças que se intensificaram nos últimos anos, envolvendo uma área conhecida como Terras do Rio Verde ( era uma imensidão de terras ). A região, segundo os relatos, pertence há décadas às famílias de Aloízio Soares Martins e Benedicta Teixeira de Medeiros, com origem dos meados de 1900 e documentação datada desde 1964.

Foto: Arquivo da família de Aloízio Soares Martins

O conflito ganhou novos contornos em 2022, quando tapumes foram instalados em parte da área, apelidada de “Ilha do Urubu”, bloqueando o acesso dos moradores e iniciando o desmatamento. A área de 20 hectares, de matrícula nº 26.733 — já bloqueada pela Justiça — teria sido “doada” em 2006 pelo então governador Paulo Souto a um grupo identificado como “turma de Crisnandes”. A mesma área teria sido posteriormente vendida para o empresário Philipe Meuus.

O caso se tornou ainda mais complexo quando Gregório Marin Preciado surgiu alegando ser proprietário do terreno, com base na matrícula nº 13.188, oriunda de uma suposta negociação feita por Moacir Andrade — figura apontada pelos moradores como responsável por iniciar, na década de 1970, a prática de aquisição de terras locais por meio de documentos falsos e hipotecas questionáveis.

A denúncia das famílias indica que Moacir, junto ao grupo de Gregório, teria utilizado a matrícula 13.188, conhecida como “matrícula voadora”, para tomar posse de áreas já ocupadas há décadas por comunidades tradicionais. A documentação dessa matrícula teria origem na região de Itaquena, distante das Terras do Rio Verde, mas vem sendo usada para embasar reintegrações de posse e outras ações judiciais.

O empresário Philipe Meuus, mesmo ciente das disputas e dos bloqueios judiciais, teria adquirido outras áreas da mesma origem duvidosa, além de supostamente comprar em 2023 , direitos de herança de filhos do segundo relacionamento de Aloízio Soares Martins — pessoas que, segundo os herdeiros legítimos, não têm direito sobre as Terras do Rio Verde. “‘ E ainda compra o direito de herança de forma duvidosa e escolhe a terra que querem ocupar”, denuncia um dos familiares.

A disputa se agravou em 2020 com novas invasões e, em 2021, a Justiça concedeu decisão favorável às famílias de Aloízio e Benedicta. Ainda assim, em 2023, a parte contrária obteve uma nova decisão judicial favorável, revertendo parcialmente os avanços das famílias tradicionais. Em 2025, foi determinado o sequestro do bem, com bloqueio de ações de Gregório, mas o grupo segue tentando reverter decisões anteriores e fazer valer a matrícula 13.188 sobre a área do Rio Verde.

Os moradores relatam décadas de abusos: destruição de documentos, incêndios em propriedades e até perseguições físicas. Grande parte da comunidade é composta por pessoas simples, muitas analfabetas, que afirmam não encontrar amparo nas autoridades. “Eles sabiam que estávamos vulneráveis. Usaram disso para tomar nossas terras com malícia e falsidade”, afirma um descendente direto de Aloízio e Benedicta.

O caso evidencia um histórico de violência fundiária na região do sul da Bahia, onde terras de alto valor turístico e ambiental vêm sendo alvo de disputa entre grupos econômicos e famílias tradicionais. As denúncias estão sendo encaminhadas à Justiça e ao Ministério Público, na tentativa de garantir o direito e a permanência das famílias nas áreas que ocupam há gerações.

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