Câmeras de monitoramento flagram imagens raras de cópula de harpias na RPPN Estação Veracel em Porto Seguro

Por ASCOM
20/04/2021 - 18:58

Foto: Divulgação

Em um registro extremamente raro, um casal de harpias foi filmado em um momento de cópula na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel, localizada nos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, no Sul da Bahia. As imagens foram capturadas no último mês a partir de um dos dois ninhos monitorados pelo Projeto Harpia na RPPN. É a primeira vez em que uma cópula é registrada em vídeo desde o início do monitoramento nesta reserva com mais de de 6.000 hectares na Mata Atlântica. Veja aqui o vídeo completo.

O flagrante foi gravado por câmeras instaladas no ninho que é monitorado na RPPN Estação Veracel em parceria com o núcleo do Projeto Harpia na Mata Atlântica, coordenado pela Universidade Federal do Espírito Santo. A harpia está classificada como vulnerável à extinção no país, já foi extinta localmente em diversas regiões, é considerada rara na Mata Atlântica e está classificada com criticamente em perigo à extinção na Bahia.

"Quando identificamos as imagens, ficamos extasiados com o registro. São fatos como este que renovam nossa motivação e orgulho na RPPN Estação Veracel. Além disso, um flagrante de cópula é sensacional, pois sugere que um novo filhote de uma espécie bastante vulnerável pode estar por vir. Além de raro, o fato é ainda mais importante por ter sido registrado em uma área de Mata Atlântica, onde a população de harpias é ainda menor que na Amazônia," destaca Virginia Londes de Camargos, coordenadora de Estratégia Ambiental e Gestão Integrada da Veracel Celulose e responsável pela RPPN Estação Veracel. "Esse registro confirma o excelente nível de conservação ambiental da RPPN. A harpia é um predador de topo na cadeia alimentar, e sua presença indica que a floresta está saudável, pois para a sua manutenção tem que haver disponibilidade de presas para sua alimentação, bem como grandes árvores, para construção de seus ninhos", completa.

"Quando este ninho foi encontrado em 2018 na RPPN Estação Veracel, já havia um filhote em desenvolvimento. Acompanhamos todos os cuidados que os pais tiveram com ele. No ano passado, já jovem, ele foi embora e não retornou mais ao ninho. Os pais aproveitaram para reformar a casa e começaram a namorar. Estamos de olho em tudo e na torcida pelo nascimento de mais um filhotinho nessa importante reserva! Monitorar este e outros ninhos na Mata Atlântica tem nos permitido conhecer o comportamento dessa espécie ameaçada e as exigências para sua sobrevivência nos remanescentes florestais protegidos nesse bioma que foi amplamente devastado", destaca o pesquisador e professor Aureo Banhos, da Universidade Federal do Espírito Santo, coordenador do projeto.

As harpias escolhem as árvores mais altas das florestas para fazer seus ninhos, tornando muito difícil a identificação dos mesmos. Quando são encontrados, os ninhos passam a ser monitorados por câmeras trap. Essas imagens permitirão que os pesquisadores acompanhem de perto todo o processo de reprodução, bem como filhote, até que ele adquirira independência.

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A harpia é considerada a maior águia das Américas e é uma espécie dependente de floresta, sendo muito sensível às alterações causadas pelo homem, principalmente o desmatamento e a caça.

Em 2018, foram identificados dois ninhos com filhotes na Estação Veracel, que passaram a ser monitorados. Com isso, foi possível acompanhar o casal de harpias reformando o ninho, o que sugeriu um novo ciclo de reprodução. Vale ressaltar que as harpias são monogâmicas e o casal quase sempre usa o mesmo ninho para reprodução.

Geralmente, as harpias colocam de um a dois ovos, mas apenas um sobrevive. Os pais tomam conta dele por cerca de 2 a 3 anos, mesmo que ele já esteja voando e experimentando caçar sozinho. Por isso, a reprodução da harpia é lenta, o que faz com que a ave corra ainda mais risco de desaparecer.

Sobre a parceria entre o Projeto Harpia e a Estação Veracel

A RPPN Estação Veracel, maior reserva privada do Nordeste e a segunda maior no bioma Mata Atlântica, representa um dos principais remanescentes de floresta atlântica no Extremo Sul da Bahia e no Corredor Central da Mata Atlântica. A Reserva está entre as 20 áreas do mundo com maior número de indivíduos e elevado número de espécies arbóreas. Foi identificada como uma área-chave para a biodiversidade (Key Biodiversity Area - KBA) pelo seu importante papel na proteção de espécies da fauna globalmente ameaçadas de extinção.

Com pesquisadores e equipamentos especializados no estudo e manejo deste tipo de ave, o Projeto vem desenvolvendo pesquisas, reabilitação, reintegração e conservação da população de harpias (Harpia harpyja) de vida livre que habitam as matas dos fragmentos florestais da RPPN Estação Veracel, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e do Parque Nacional do Pau-Brasil (PARNA do Pau-Brasil), no Extremo Sul da Bahia.

O monitoramento das aves em vida livre é feito por meio de câmeras, rastreamento de indivíduos com transmissores via satélite e rádio VHF, busca ativa, entre outras formas. Esses métodos permitem acompanhar toda a movimentação das aves, bem como o seu comportamento.

O projeto começou a ser desenvolvido em 1997, com o resgate de um exemplar adulto da espécie, por fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Reno­váveis (IBAMA). Na época, a ave foi entregue à Estação Veracel, que construiu um ambiente especialmente para ela. Um processo de reabilitação foi estabelecido e estudado, e em 2009, a ave foi solta para que voltasse à vida livre e acompanhada.

Além desta, outra ave também também já foi reabilitada. Batizada carinhosamente de Katumbayá (que na língua indígena quer dizer: mãe da mata), por alunos das escolas da região, esta segunda ave, considerada jovem, foi encontrada por fazendeiros da região e socorrida pelos especialistas e também encaminhada a Estação Veracel, onde passou um breve período de tratamento que culminou em sua soltura.

Em 2018, o Projeto Harpia mapeou dois ninhos com filhotes de harpias na Estação Veracel e desde em então tem sido monitorados nesta parceria.

A Estação Veracel é considerada uma área importante para conservação de aves (Important Bird Area - IBA), pois abriga populações significativas de espécies globalmente ameaçadas. A importância da RPPN Estação Veracel foi reconhecida internacionalmente com o título de Sítio do Patrimônio Mundial Natural (SPMN), concedido pela UNESCO em 1999.

Sobre o Projeto Harpia

Com o nome de "Programa de Conservação do Gavião-real", o projeto foi fundado em 1997 pela Dra. Tânia Sanaiotti, vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), após a descoberta de um ninho de gavião-real (Harpia harpyja) numa floresta próxima a região de Manaus.

No ano de 1999, foram estabelecidas algumas metas para ampliar a identificação, mapeamento e monitoramento de ninhos. O objetivo era estudar a biologia dessa espécie na Amazônia Brasileira, com a participação de voluntários dispostos a enfrentar o desafio de conservar esta ave de rapina.

Hoje, esta inciativa é chamada de Projeto Harpia e atua em todo o território brasileiro. O projeto conta com o apoio de pesquisadores parceiros, voluntários, estudantes e bolsistas para a realização da coleta de dados, projetos de educação ambiental e divulgação de informações no entorno de ninhos. Diversos ninhos de harpia e de outras grandes águias florestais, como o uiraçu e o gavião-de-penacho, são monitorados no Brasil.

Na Mata Atlântica do sul da Bahia e norte do Espírito Santo, um núcleo do Projeto Harpia foi estabelecido e é coordenado pelo professor Aureo Banhos, vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo.

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